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Círculo do Graal

“Pensamentos são como sementes deitadas ao solo”

Círculo do Graal

“Pensamentos são como sementes deitadas ao solo”

Sab | 30.08.14

Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!

 

Quem não conhece estas palavras tão significativas que Jesus de Nazaré pronunciou quando pendia da cruz. Uma das maiores intercessões que jamais foram pronunciadas. De modo nítido e claro. Todavia, permaneceu-se durante dois milénios diante dessas palavras sem compreendê-las. Foram interpretadas unilateralmente. Apenas naquela direção que parecia agradável aos seres humanos. Não houve um sequer que levantasse sua voz em prol do verdadeiro sentido e o bradasse com toda a clareza à humanidade, principalmente aos cristãos!

Contudo, não apenas isso. Todos os acontecimentos abaladores da vida terrena do Filho de Deus foram colocados sob luz errada, devido à unilateralidade na transmissão. São erros, contudo, que não somente o cristianismo apresenta, mas encontram-se em cada religião.

Quando discípulos colocam o puramente pessoal do preceptor e mestre acima de tudo e bem em evidência, então isso é compreensível, principalmente quando esse mestre é arrancado de modo tão brutal e repentino de seu meio, para ser exposto, na mais completa inocência, a gravíssimos sofrimentos e aos mais grosseiros escárnios e, por fim, à tormentosíssima morte.

 

Tal coisa se grava, profundamente, nas almas daqueles que puderam conhecer o seu preceptor da maneira mais ideal na convivência em comum, fazendo com que aquilo que é pessoal se coloque então à frente de todas as recordações. Isso é absolutamente natural. Mas a sagrada missão do Filho de Deus foi a Sua Palavra, foi trazer a Verdade das alturas luminosas, a fim de assim mostrar à humanidade seu caminho para a Luz, que até então lhe esteve vedado, porque seu estado espiritual, em seu desenvolvimento, não possibilitava seguir anteriormente aquele caminho!

Os sofrimentos infringidos pela humanidade a esse grande portador da Verdade ficam completamente à parte!

Mas aquilo que nos discípulos era evidente e natural, resultou na religião posterior em muitos e grandes erros. A objetividade da Mensagem de Deus ficou longe, em segundo plano, diante do culto pessoal ao portador da Verdade, o que Cristo jamais quis.

Por tal motivo, patenteiam-se falhas no cristianismo, que levam ao perigo de um descalabro, se os erros não forem reconhecidos a tempo, corrigidos corajosamente e confessados com franqueza.

 

Nada mais é de se esperar, senão que o menor progresso sincero terá que tornar visíveis tais lacunas. Então, decididamente é melhor não se desviar delas, mas atacá-las corajosamente! Por que não há-de a purificação partir da própria direção, de modo corajoso e alegre, com o olhar livre para a grande Divindade! Agradecidos, grandes grupos da humanidade seguiriam o chamado, como que libertados duma opressão, pressentida sim, nunca, porém, reconhecida, que os conduz à Luz de jubilosa convicção!

Seguindo o hábito todo daquelas pessoas que se sujeitam às cegas ao domínio ilimitado de seu próprio raciocínio, estreitando assim fortemente a sua faculdade de compreensão, deu-se à vida terrena de Cristo valor igual à sua missão. Interessam-se por questões de família e por todos os acontecimentos terrenos, até mais ainda aí, do que pela finalidade essencial de sua vinda, que consistia em dar aos espíritos humanos amadurecidos explicações sobre todo o fenómeno legítimo na Criação, onde, exclusivamente, encontram a Vontade de Deus, que nela foi entretecida e assim, para eles, confirmada.

Trazer essa até aí desconhecida Verdade, unicamente, tornou necessária a vinda de Cristo à Terra. Nada mais. Pois sem reconhecer corretamente a Vontade de Deus na Criação, ser humano algum consegue encontrar o caminho para a escalada ao reino luminoso, muito menos ainda segui-lo.

 […]

Até agora não se teve uma explicação certa e fundamentação para o sofrimento terrestre. Por isso buscou-se narcóticos como paliativos, os quais, impensadamente, são transmitidos com palavras mais ou menos habilidosas, sempre de novo, aos que sofrem. O grande erro unilateral de todas as religiões!

E quando alguém quer, de modo totalmente desesperado, uma resposta demasiadamente clara, simplesmente se coloca então aquilo que não se compreende no reino do Divino mistério. Ali devem desembocar todos os caminhos de perguntas não solucionadas como porto de salvação. Mas assim se revelam nitidamente como os caminhos errados!

Pois cada caminho certo também tem um fim claro, não devendo conduzir à impenetrabilidade. Onde “imperscrutáveis caminhos de Deus” devam servir como explicação, ocorre uma fuga decorrente de inconfundível ignorância.

Para o ser humano não há nem deve haver necessidade de qualquer mistério na Criação, pois Deus quer que Suas leis vigentes na Criação sejam bem conhecidas do ser humano, a fim de que ele possa conduzir-se de acordo e, por meio delas, completar e cumprir mais facilmente seu percurso pelo Universo, sem se perder na ignorância.

Uma das mais fatais conceções, porém, continua sendo considerar o brutal assassínio do Filho de Deus como um holocausto indispensável em favor da humanidade!

Pensar que esse brutal assassínio do Filho deva reconciliar um Deus!

 

Uma vez que não se pode encontrar logicamente nenhum esclarecimento para essa estranha conceção, as pessoas escondem-se assim, com isso, de modo embaraçado, novamente atrás do muro do tão frequentemente utilizado muro de proteção do Divino mistério, portanto de um de fenómeno que não se pode tornar compreensível ao ser humano!

No entretanto, Deus é tão claro em tudo quanto faz. A própria clareza! Criou, pois, a natureza segundo a Sua Vontade. Portanto, o que é natural tem de ser exatamente o certo! Pois a Vontade de Deus é absolutamente perfeita.

Mas o holocausto na cruz tem de ser antinatural a cada bom senso, por ser além disso injusto contra o Filho de Deus inocente. Não existe aí nem um contornar ou esquivar. Preferivelmente, a criatura humana deveria confessar, de modo sincero, que uma coisa dessa espécie é realmente incompreensível! Pode esforçar-se como quiser, não chegará aí a nenhuma conclusão, não podendo mais compreender seu Deus nesse caso. Todavia Deus quer ser compreendido! Outrossim, pode sê-lo, porque a manifestação de Sua Vontade reside claramente na Criação, nunca se contradizendo. Somente os seres humanos é que se empenham em introduzir coisas incompreensíveis em suas investigações religiosas.

A penosa construção do falso pensamento básico, de um holocausto indispensável com a morte na cruz, já fica desfeita pelas palavras do próprio Salvador, na ocasião em que o crucificaram.

Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!

 

Seria, pois, necessária essa intercessão se a morte na cruz devesse ser um sacrifício indispensável para a reconciliação? “Não sabem o que fazem!” é, pois, uma acusação da mais grave espécie. Uma indicação nítida de que está errado o que fazem. Que esse ato foi apenas um crime comum.

Teria Cristo rogado em Getsémani que o cálice do sofrimento lhe fosse desviado, se a morte na cruz devesse ser um holocausto necessário? Nunca! Cristo não teria feito isso!

Assim, porém, sabia que as torturas que o aguardavam, eram apenas uma consequência do livre arbítrio humano. E, por isso, seu rogo.

Cegamente passaram diante disso durante dois milénios e irrefletidamente aceitaram em troca o mais impossível.

De modo doloroso tem de se ouvir, mui frequentemente, as opiniões de que os preferidos entre os atuais discípulos e discípulas de Jesus são agraciados com sofrimentos corpóreos, como por exemplo estigmas!

Naturalmente, tudo isso apenas decorre dessa falsa interpretação dos sofrimentos terrenos de Cristo. Nem pode ser de outro modo. Quais as pesadas consequências pessoais que isso pode acarretar, quero ainda mencionar.

 

Quanta irreflexão se faz mister, e que baixo servilismo imaginar o Todo-poderoso Criador agindo dessa maneira! É, pois, sem qualquer dúvida, a mais pecaminosa degradação da sublime Divindade, para cuja imaginação essencial o mais belo ainda não pode ser suficientemente belo, o melhor insuficientemente bom, para com isso aproximar-se apenas um pouco da realidade! E a esse grande Deus julga-se que seja capaz de exigir do ser humano, por Ele criado, que tenha de se contorcer em dores diante Dele, quando Ele o agracia?

Como poderá seguir-se a isso uma ascensão!

Os seres humanos formam o seu Deus conforme eles o querem ter, eles dão a Ele as diretrizes da Vontade Dele! E ai Dele, se não for assim conforme pensam; sem mais nem menos será então recusado, assim como são recusados, combatidos, aqueles que ousam ver Deus muito maior e mais sublime. Nas conceções humanas de até agora não há grandeza. Pelo contrário, comprovam apenas a fé inabalável no valor próprio. Pelo favor das criaturas humanas um Deus tem de mendigar; das mãos ensanguentadas delas foi-Lhe permitido receber de volta Seu Filho, zombado e escarnecido, martirizado e torturado, que Ele outrora enviara em auxílio com a Mensagem salvadora!

 

E ainda hoje se pretende manter de pé que para Deus tudo isso foi um necessário sacrifício reconciliador? Quando o próprio Cristo, sob os seus tormentos, já totalmente desesperado diante dessa cegueira, clamou: “Eles, pois, não sabem o que com isso fazem!”

Existe então ainda uma possibilidade, aliás, de levar a humanidade para o caminho certo? Mesmo os mais graves acontecimentos sempre são ainda demasiadamente fracos para tanto. Quando, finalmente, o ser humano reconhecerá quão profundamente, na realidade, ele afundou! Quão vazias e ocas são as ilusões que criou para si!

Mas tão logo se perscrute apenas um pouco mais profundamente, encontra-se o egoísmo encapsulado em sua forma mais legítima. Embora se fale agora por todos os cantos sobre uma procura de Deus com palavras bombásticas, isto é mais uma vez uma grande hipocrisia na usual vaidade, à qual falta totalmente qualquer anseio sincero pela Verdade pura. Procura-se apenas auto endeusamento, nada mais. Pessoa alguma se esforça seriamente para compreender Deus!

 

Com sorrisos pretensiosos afastam logo a simplicidade da Verdade, despercebidamente, pois julgam-se instruídos demais, elevados demais e importantes demais para que seu Deus ainda deva ocupar-se com o que é simples! Ele tem de ser muito mais complicado, para honra deles. Do contrário, pois, não valeria a pena crer Nele! Como se poderia, segundo a aceção deles, reconhecer ainda algo que seja facilmente compreensível a cada ignorante, algo assim não se pode taxar de grande. Hoje nem se deve mais ocupar com isso, senão torna-se ridículo. Deixe-se isso para as crianças, as velhas e os ignorantes. Não é, pois, para as criaturas humanas de raciocínio tão preparado, de inteligência, as quais são agora encontradas entre as pessoas cultas. O povo que se ocupe com isso! A cultura e a sabedoria só podem ser medidas pela dificuldade das faculdades de compreensão!

São ignorantes, porém, os que assim pensam! Nem merecem ainda receber uma só gota de água das mãos do Criador por intermédio da Criação!

 

Por restrição privaram-se da possibilidade de reconhecer a grandeza deslumbradora na simplicidade das leis Divinas! São, em sentido literal, incapazes para tanto, ou falando de modo bem claro, demasiado broncos, devido a seu cérebro unilateral tão atrofiado, que já desde a hora do nascimento trazem consigo, como um troféu das maiores conquistas.

Constitui um ato de graças do Criador, deixar que eles feneçam com a estruturação que fizeram, pois, para onde se olhe, tudo é hostil a Deus, desfigurado pela mórbida mania de grandeza de todos os seres humanos de raciocínio, cuja incapacidade se evidencia por toda a parte.

E isso já vem crescendo desde milénios! Levou fatalmente ao envenenamento das igrejas e das religiões, uma vez que, como mal corrosivo, foi a consequência categórica daquele pecado original, onde o ser humano se decidiu irrestritamente a favor do domínio do raciocínio.

E esse falso domínio sempre enganou as criaturas humanas a ele escravizadas, em tudo o que se refere ao Divinal! E até mesmo em todo o espiritual.

Quem não derrubar dentro de si esse trono e assim se libertar, terá de soçobrar junto com ele!

 

Já não se deve mais dizer pobre humanidade, pois eles são conscientemente culpados, como jamais a criatura pôde tornar-se culpada! A expressão: “Perdoai-lhes; não sabem o que fazem!” não é mais adequada à humanidade de hoje! Tiveram mais de uma vez o ensejo para abrir os olhos e os ouvidos. Agem plenamente conscientes, e todo o efeito retroativo terá de atingi-los por isso na medida mais completa, integralmente!

Portanto, quando se fechar o anel de todo o acontecer até agora, sobrevirá com isso para esta parte da Criação o corte, a colheita e a separação. Jamais isso aconteceu até agora, desde o existir da matéria inteira.

 

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação, “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem! ”, da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II