Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Círculo do Graal

“Pensamentos são como sementes deitadas ao solo”

Círculo do Graal

“Pensamentos são como sementes deitadas ao solo”

Sab | 11.10.14

No país da penumbra

Deixa-te guiar, alma humana, um passo para dentro do reino da matéria fina! Percorramos o país das sombras, sem parada, pois dele já falei. É aquele país onde têm de permanecer os que ainda são demasiadamente broncos para se utilizar corretamente do seu corpo de matéria fina. Exatamente todos aqueles que aqui na Terra se consideraram excecionalmente sagazes. No reino da matéria fina são mudos, cegos e surdos, porque o raciocínio terreno, como produto de seu corpo de matéria grosseira, não pôde chegar junto até aí, mas sim permaneceu nos limites restritos que ele, por ser preso à Terra, jamais pode transpor.

A primeira consequência de seu grande erro nisso tornar-se-á logo evidente a uma alma humana depois da morte terrena, por ser imprestável no reino da matéria fina, desamparada e fraca, muito pior do que uma criança recém-nascida na Terra de matéria grosseira. Por isso são chamadas sombras. Almas que ainda sentem intuitivamente sua existência, mas não conseguem ficar conscientes da mesma.

Deixemos para trás esses tolos, que nesta Terra, querendo saber tudo melhor, tagarelavam sobre coisas insignificantes e agora têm de ficar calados. Entramos na planície da penumbra! Um sussurro chega a nossos ouvidos, bem consentâneo com a pálida luz da penumbra que nos rodeia, deixando reconhecer, de modo impreciso, contornos de colinas, prados e arbustos. Tudo aqui é sintonizado de modo lógico à penumbra, podendo acarretar um despertar. Mas pode apenas, não acaso obriga.

Aqui não é possível nenhum som livre e alegre, nenhuma visão clara; apenas um semidespertar ou um permanecer enclausurado, consentâneo com o estado das almas que aqui se encontram. Todas elas têm um movimento lânguido, deslizando cansadamente, apáticas, com exceção de um incerto impelir a uma direção donde parece emergir, ao longe, um ténue róseo, anunciando luz que atua como doce encantamento sobre as almas aparentemente tão cansadas. Almas apenas aparentemente cansadas, pois são preguiçosas no espírito e por isso seus corpos de matéria fina são fracos.

O vislumbre róseo na distância longínqua acena promissoramente! Despertando esperanças, incentiva à movimentação mais vivaz. Com o desejo de atingir esse vislumbre, os corpos de matéria fina se aprumam cada vez mais, em seus olhos surge a expressão de mais forte conscientização e, cada vez mais firmes, caminham naquela direção.

Caminhamos juntos. O número de almas em nosso redor aumenta, tudo se torna mais móvel e mais nítido, o falar se torna mais alto, transformando-se num forte murmúrio, de cujas palavras depreendemos que os que avançam proferem orações incessantemente, de modo apressado, como que em estado febril. As massas tornam-se cada vez mais densas, o avançar transforma-se num empurrar, grupos se aglomeram diante de nós, são compelidos para trás pelos dianteiros, para novamente pressionarem para a frente. Assim verifica-se um ondular sobre as massas aglomeradas, das orações sobressaem gritos de desespero, palavras de medo suplicante, de medrosas exigências, e aqui e acolá, outrossim, sufocado lamento de extrema desesperança!

Passamos rapidamente por cima da luta de milhões de almas e vemos que diante delas se encontra de modo rígido e frio um obstáculo ao prosseguimento, contra o qual investem em vão, banhando-se inutilmente em lágrimas.

Grandes e fortes barras, mui próximas umas das outras, impõem de modo inexorável uma parada ao seu avanço!

E mais forte clareia o róseo vislumbre ao longe, mais ansiosos se arregalam os olhos daqueles que o escolheram como alvo. Suplicantes são estendidas as mãos, que convulsivamente ainda se agarram aos rosários, deixando correr por entre os dedos as contas, uma após outra, balbuciando! As barras, porém, permanecem inabaláveis, rígidas, separadoras do belo alvo!

Passamos por densas filas. É como se não tivessem fim. Não centenas de milhares, mas milhões! São todos aqueles que na Terra se julgavam deveras “fiéis”. Quão diferentes haviam imaginado tudo! Julgavam que seriam aguardados de modo alegre, respeitosamente bem-vindos.

Bradai-lhes: “De que vos valem, fiéis, as vossas preces, se não deixastes a Palavra do Senhor se tornar ação, naturalidade, em vós próprios!

O vislumbre róseo ao longe é o anseio pelo reino de Deus, que arde dentro de vós! Tendes dentro de vós o anseio para tanto, mas obstruístes o caminho para lá com formas rígidas de conceções falsas, as quais vedes agora diante de vós como barras que impedem igual a uma grade! Deixai cair aquilo que assimilastes de conceções erróneas durante a existência terrena, aquilo que além disso construístes para vós próprios! Lançai fora tudo e ousai levantar o pé livremente em prol da Verdade, como ela é, em sua grande e simples naturalidade! Então estareis livres para o alvo do vosso anseio!

Mas vede, não ousais devido ao constante medo; poderia estar errado talvez o que assim fazeis, porque até aqui pensastes diferentemente! Com isso vos tolheis e tendes de permanecer onde estais, até ser demasiado tarde para o prosseguimento e terdes de sucumbir com a destruição! Nisso nada vos poderá ser auxiliado, se vós próprios não começardes a deixar o errado para trás de vós!”

Bradai, pois! Bradai a essas almas o caminho para a salvação! Vereis que é tudo em vão, pois somente recrudesce o ruído das infindáveis orações, impedindo que esses rogadores escutem qualquer palavra que lhes permitiria caminhar para diante, ao encontro do vislumbre róseo e da luz. Assim agora têm de ficar perdidas, não obstante alguma boa vontade, como vítimas de sua indolência que não as deixou reconhecer mais do que as exterioridades de suas igrejas, templos e mesquitas.

Entristecidos prossigamos. – Mas ali, diante de nós, está uma alma de mulher, sobre cujo rosto subitamente se espraia uma serenidade cheia de paz; novo brilho surge em seus olhos que até agora olhavam cismadoramente e com temerosa reflexão; conscientizando-se, ela se apruma, torna-se mais clara… forte vontade da mais pura esperança faz com que erga o pé… e respirando aliviada, encontra-se além das barras! Para essa alma de mulher as barras não constituem mais qualquer impedimento, pois na profunda reflexão, intuindo com sensibilidade, chegou à convicção de que tudo aquilo quanto imaginava tinha de ser errado, e corajosamente, com alegre fé no Amor de Deus, lançou fora esse errado.

Surpresa, vê agora quão fácil isso foi. Agradecendo, ergue seus braços, e um inenarrável sentimento intuitivo de felicidade quer se manifestar jubilosamente, no entanto, isso sobreveio-lhe demasiadamente grande, intensamente poderoso; os lábios permanecem mudos, sua cabeça se inclina com leve estremecer, os olhos se fecham e pesadas lágrimas correm vagarosamente pelas suas faces, enquanto suas mãos se juntam numa oração. Numa oração diferente das de até então! Num agradecimento. Numa grande intercessão em favor de todos aqueles que ainda se encontram atrás daquelas rígidas barras. Por causa das próprias conceções, que não querem relegar como erradas.

Um suspiro de profunda compaixão lhe enche o peito, e com isso se desprende dela como que uma última algema. É agora livre, livre para o caminho rumo ao alvo por ela interiormente almejado.

Erguendo o olhar, vê diante de si um guia, e alegremente lhe segue os passos para o novo e desconhecido país, ao encontro do vislumbre róseo que cada vez se torna mais intenso!

Assim se desprendem daquelas massas outras almas que, atrás das barras das conceções erróneas, têm de esperar por sua própria decisão, por sua própria resolução, que as pode conduzir adiante, ou as retém até à hora da destruição de tudo aquilo que não pode animar-se para abandonar o errado antigo. Só poucas se salvarão ainda dos liames das conceções erróneas. Estão nisso demasiadamente emaranhadas. Tão rígido como o seu agarrar a isso são também aquelas barras que lhes impedem um prosseguimento ascensional. Estender-lhes as mãos para vencer esse impedimento é impossível, porque para isso se faz necessária absolutamente a decisão própria das almas. O próprio vivenciar dentro de si, que proporciona movimento a seus membros.

Desse modo, pesada maldição recai sobre todos aqueles que ensinam ideias erróneas às criaturas humanas a respeito da Vontade de Deus na Criação, a qual outrora podia ser encontrada na palavra do Salvador, mas não permaneceu pura no texto da bíblia e menos ainda nos esclarecimentos terrenos.

Deixai-as, pois, em sua obstinação, continuar a recitar monotonamente orações, na ilusão de que a quantidade destas lhes possa e deva ajudar, porque a igreja assim ensinou, como se a Vontade de Deus se deixasse mercadejar.

Prossigamos pelo país da penumbra. Interminável parece a fortaleza de barras, atrás da qual, a se perder de vista, empurram-se os retidos por ela.

São, porém, outros. Grupos que, ao invés de rosários, seguram Bíblias nas mãos, nelas procurando desesperadamente. Aglomeram-se em redor de algumas almas, que doutrinando querem dar informações, ao mesmo tempo que leem trechos da Bíblia sempre de novo. Exigindo, várias almas exibem aqui e acolá suas Bíblias; muitas vezes, de joelhos, são elas erguidas como em oração… as barras, todavia, persistem, impedindo-as de prosseguir.

Muitas almas insistem em seu conhecimento da Bíblia, algumas no seu direito de entrar no reino do céu! Mas as barras não oscilam!

Eis que uma alma de homem abre passagem entre as filas, sorrindo. Vitorioso, acena com a mão.

“Tolos”, brada, “por que não quisestes ouvir? Gastei a metade de minha existência terrena estudando o Além, ou seja para nós agora o Aquém. As barras, que vedes diante de vós, desaparecerão depressa por um ato de vontade; elas são criadas pela ilusão. Segui-me apenas, eu vos guio! Tudo isso já é familiar para mim!”

As almas em seu redor dão-lhe passagem. Avança apara as barras, como se não existissem. Com um grito de dor, contudo, recua cambaleando subitamente. O choque foi duro demais e convence-o mui rapidamente da existência das barras. Com ambas as mãos ele segura sua testa. As barras diante dele continuam inabaláveis. Com um acesso de cólera as agarra e as sacode impetuosamente. E grita com raiva:

“Então fui enganado pelo médium! E gastei anos e anos nisso!”

Não se lembra que foi ele quem gerou os erros e os propalou pela palavra e pela escrita, após ter interpretado as imagens dadas pelo médium segundo suas aceções, sem primeiro estudar as leis de Deus na Criação.

Não procureis ajudar esse homem ou outrem, pois todos se acham tão convencidos de si, que nem querem ouvir algo diferente do que a própria intuição. Primeiro terão de se cansar disso, conhecer ou reconhecer a impossibilidade, onde unicamente está ancorada a condição de ainda escapar desse emaranhamento de convicções erróneas, após longo vagar pelo país da penumbra.

Não é que se trate de criaturas humanas ruins, mas sim daquelas que pura e simplesmente apenas se aferraram a conceções erróneas no seu pesquisar, ou que foram demasiado preguiçosas para meditar profundamente a respeito de tudo, ao invés de examinar com cuidadosíssima pesquisa intuitiva, se aquilo que foi recebido pode ser considerado como certo ou se contém lacunas, que numa sadia reflexão intuitiva não são mais capazes de se manter como naturais. Deixai, portanto, cair as vazias exterioridades!

Tudo quanto é místico, o espírito humano afaste de si, uma vez que jamais lhe pode trazer proveito. Somente o que ele mesmo sente intuitivamente de modo nítido, levando assim ao próprio vivenciar dentro de si, ser-lhe-á de proveito no amadurecimento de seu espírito.

A palavra “Desperta!” que Cristo empregou com frequência, quer dizer: “Vivencia!”. Não passes pela existência terrena dormindo ou sonhando. “Ora e trabalha” significa: “Faz do teu trabalho uma oração!” Espiritualiza aquilo que crias com tuas mãos! Cada trabalho, em sua execução, deve tornar-se uma adoração respeitosa a Deus, como agradecimento pelo que te é outorgado por Deus, de realizar algo de extraordinário entre todas as criaturas desta Criação posterior, bastando que o queiras!

Principia em tempo com o despertar, com o próprio vivenciar interior de tudo, o que equivale à pesquisa intuitiva de modo consciente, inclusive do que lês e ouves, para que não tenhas de permanecer no país da penumbra, do qual hoje esclareci apenas uma bem pequena parte.

 

Abdruschin

 

Dissertação, “No País da Penumbra”, da obra Na Luz daNa Luz da Verdade - Mensagem do Graal, volume III.